Crônica: A paz – somos descartáveis

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Por: Sérgio Sant’Anna*

Chegada essas ondas de frio ao final do outono e com elas uma série de doenças que se acumulam ao longo do inverno e terminam com o aflorar primaveril. A Covid-19 já não é mais considerada um risco ao ser humano como ocorrera num passado não tão distante; as vacinas são disponibilizadas nos diversos postos de saúde espalhados pelo País via SUS, além da vacina da gripe. Porém, há aqueles que se encontram aprisionados nas ideias negacionistas difundidas ao longo do Governo de Jair Messias Bolsonaro, cujo próprio foi um fiel defensor dessas teorias insanas.

Acabei sendo interceptado, a princípio, por um resfriado e, consequentemente classificado como uma forte gripe, porém pedira a doutora que me atendera de maneira muito simpática que fizesse o teste para verificar se estava com Covid-19. Resultado negativo, alguns medicamentos para solucionar mais um resfriado e lá me lancei a mais uma empreitada dividida entre trabalho e filhas. Obtive dois dias de atestado, todavia não consigo parar, provas, redações, textos, leituras são vitais em meu cotidiano e com eles sustento minha família, mesmo que alguns ousem me criticar pelo excesso de trabalho carregado para casa. São três Colégios particulares que possuo. São inúmeras turmas, diversos nomes, uma série de vidas que administro ao doar o meu conhecimento e provocar a reflexão e formação desses futuros profissionais e cidadãos. Responsabilidade, mesmo que muitos insistam em não coloca-los nesse patamar.

E como um analista do cotidiano sou atento ao ato de educar, mesmo que para alguns isso não transpareça. E lá na Policlínica, onde fui muito bem atendido por uma simpática clínica geral, havia inúmeras pessoas para serem atendidas, cheguei cedo e fiquei apenas duas horas e meia na fila, e na minha frente um casal com sua filha de três anos que tossia muito e chorava constantemente, entretanto para fazer com que a criança cessasse o choro sem lágrimas os pais ofereciam para criança o celular com um jogo pueril que a divertia. O celular tocava o pai ou a mãe o pegava para atender, lá se destinava a criança a chorar. Ligação encerrada, celular disponibilizado para o bebê. Lembro-me que há alguns anos escrevi uma crônica em que dizia que o celular seria a chupeta do futuro. Foi verdade. Não só uma chupeta, contudo uma babá, pois é assim que muitos pais o enxergam.

Vivemos numa sociedade atarefada, numa sociedade que classificou o tempo como escasso, numa sociedade que deseja a todo custo lucrar sobre o tempo. Fomos treinados a acreditar que a felicidade se associa ao dinheiro, e que este é o ser supremo do universo. Disputas, conflitos, destruição familiar se avolumam em nome deste que é considerado bondoso. E o celular, um instrumento tecnológico criado para o bem do ser humano (é o que os inventores sempre nos dizem) foi transformado em um polvo com seus múltiplos tentáculos.

Na casa a família dividida, cada um com seu aparelho celular. Na balada cada um escutando sua música, na sala dos professores cada um com sua reunião particular ao telefone… Avolumaram-se as imprudências, cancelaram o amor, eis que a tecnologia é o advento. Enfim, é a paz¿! Somos descartáveis.

* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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